Composta por gás e poeira, ela pode nos revelar detalhes sobre a formação e a interação das galáxias |
É difícil não reparar nelas. Se você mora no hemisfério sul,
provavelmente já viu essas duas maravilhas a olho nu: As Nuvens de
Magalhães - duas galáxias satélites da Via Láctea. Mas além de estarem
interagindo com a nossa Galáxia, a Grande Nuvem de Magalhães e a Pequena
Nuvem de Magalhães também estão interagindo entre si.
Os efeitos gravitacionais entre essas duas galáxias podem revelar muito
sobre a história e a evolução das galáxias, assim como os ambientes que
as rodeiam. Mas a força gravitacional não é a única força em ação nessa
história...
Agora, pela primeira vez, pesquisadores utilizando o telescópio de radar
Australian Telescope Compact Array, em Nova Gales do Sul, na Austrália,
detectaram um campo magnético no espaço entre as Nuvens de Magalhães. A
chamada Magellanic Bridge (Ponte de Magalhães). Essa estrutura é
formada por um filamento de gás e poeira que se estenda por 75.000
anos-luz entre a Grande e a Pequena Nuvem de Magalhães. Os resultados
foram publicados na revista da Royal Astronomical Society.
Detectando o Invisível
Campos magnéticos podem ser encontrados dentro e ao redor de planetas e
estrelas, mas também nas galáxias. Detectamos campos magnéticos
galáticos aqui mesmo, na Via Láctea, e também em várias outras galáxias,
mas um campo magnético extra galático é outra coisa. Este é o primeiro
campo magnético detectado "fora" de uma galáxia.
Grande e Pequena Nuvem de Magalhães acima do Observatório Australian Telescope Compact Array, na Austrália.
Créditos: Mike Salway
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Para detectar a presença da "Ponte de Magalhães", Jane Kaczmarek
(Universidade de Sydney) e seus colegas observaram 167 fontes de rádio
conhecidas na mesma área do céu, localizadas muito além das Nuvens de
Magalhães. A Grande Nuvem de Magalhães e a Pequena Nuvem de Magalhães
estão a 160.000 e 200.000 anos-luz de distância, respectivamente.
Algumas dessas fontes de rádio ficavam exatamente atrás da ponte ao
longo da nossa linha de visão, e outras estavam mais próximas do que
ela.
A energia liberada por fontes de rádio é muitas vezes parcialmente
polarizada, de modo que a luz tende a ondular numa certa direção. Mas se
ela passa através de uma estrutura qualquer, como um filamento de gás,
ou de poeira, por exemplo, antes de chegar aqui na Terra, ela muda de
polarização. A intensidade dessa mudança da polarização das ondas de
rádio é equivalente ao tamanho da estrutura em que a interação ocorreu.
Contando com isso, os astrônomos puderam calcular que o campo magnético
era de 0,3 microgauss - um milhão de vezes mais fraco do que o campo
magnético da Terra na superfície do nosso planeta.
A Ponte de Magalhães
Interpretar os dados não é simples. A Via Láctea tem seu próprio campo
magnético, assim como a Terra, o Sol e vários outros planetas do Sistema
Solar. Assim, a equipe teve de excluir possíveis sinais do campo
magnético de outras fontes para isolar apenas o campo magnético da Ponte
de Magalhães.
A Grande Nuvem de Magalhães (esquerda) e a Pequena Nuvem de Magalhães (direita).
Créditos: NASA / Hubble Space Telescope
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Sabemos que nos passado, a Grande e a Pequena Nuvem de Magalhães tiverem
uma grande aproximação. Não se sabe ao certo quando isso aconteceu, ou
quão perto foi o encontro, mas o evento literalmente dobrou as duas
galáxias, e o que eram galáxias espirais, agora são galáxias
irregulares. A Ponte de Magalhães é provavelmente um remanescente dessa
interação, composta de gás e poeira rasgado de ambas galáxias quando
passaram uma pela outra.
Os autores do estudo ainda sugerem que o campo magnético recém
descoberto é composto de ambos os campos magnéticos das duas galáxias,
que foram arrastados junto com o gás. Se verdadeiro, esse resultado
confirmaria a existência de um Campo Magnético de Magalhães, o que
poderia explicar o passado e o futuro de todo o sistema de Magalhães.
O observatório Square Kilometer Array (SKA) está na fase final de seu
projeto, e quando finalizado, em meados de 2021, sondará os campos
magnéticos que cercam galáxias que interagem com a Grande e a Pequena
Nuvem de Magalhães, assim como procurará por possíveis sinais de
magnetismo no meio intergalático, auxiliando ainda mais na busca por
novos horizontes.
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